Cid Benjamin fala sobre seu livro "Gracias a la vida"

Cid Benjamin fala sobre seu livro “Gracias a la vida”

Em 1964, 50 anos atrás, um golpe militar instalou no país uma terrível ditadura, que duraria até 1985. O regime de violência e repressão teve forte apoio dos Estados Unidos, empresários e setores conservadores da sociedade. Mas também houve aqueles que dedicaram suas vidas a combater essa situação. Naqueles 21 anos, não tão distantes assim, muitos jovens foram perseguidos, presos e torturados pelo Estado brasileiro. Um deles foi Cid Benjamin, que conta essa história em Gracias a la vida: memórias de um militante. Publicado pela José Olympio, o livro foi lançado no final do ano passado e continua rendendo bons papos sobre os casos ali relatados. Nesta última terça-feira (28), o autor esteve na Livraria Antonio Gramsci, no Centro do Rio, para mais uma conversa sobre a obra bastante elogiada pelos presentes. “Esse livro é um balanço feito por alguém que achou que tinha uma experiência para contar e podia refletir sobre isso”, afirmou.

Com uma linguagem bastante acessível, como se batesse um papo descontraído com o leitor, o livro resgata situações vividas durante esse período. Fala sobre o cotidiano de quem passou anos na clandestinidade, como foi fazer parte da luta armada, a perda de companheiros próximos, a prisão, a violência sofrida no DOI-Codi, o exílio… Relata acontecimentos que marcaram sua trajetória de vida e entraram para a história do país. Há, por exemplo, o relato do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick em setembro de 1969, ação ousada e vitoriosa da qual Cid foi protagonista e garantiu a liberação de 15 presos políticos, todos enviados para o exterior. Também conta como eram as sessões de tortura, fala sobre o período de treinamento de guerrilha em Cuba, e muitos outros assuntos que fizeram parte do passado não apenas de Cid, mas de uma geração de lutadores. “É importante contar tudo isso e refletir porque um país que não conhece sua história fica fraco para construir o futuro”.

 

Autor também reflete sobre os dias atuais

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Mas Gracias a la vida não é só feito de lembranças. Também apresenta avaliações críticas sobre o tempo presente. “Achava que só valeria a pena escrever se pudesse ir além do factual e contribuísse para a reflexão sobre questões que me parecem instigantes e ainda atuais”, afirma na apresentação do livro. Nos últimos capítulos, o autor fala, por exemplo, da chegada do PT ao poder, quando, para ele, “a estrela perdeu o brilho”. Outra reflexão bastante atual é sobre, por exemplo, a punição ou não dos torturadores. Cid Benjamin reconhece que a tortura é uma prática que existe até hoje, mas agora se volta contra um público distinto: está sendo aplicada nas delegacias e nos presídios desse país, principalmente contra pretos, pobres e favelados. Para ele, “o futuro da tortura está ligado ao futuro dos torturadores”. Por isso defende a punição, mas não apenas de quem praticou o ato em si, mas também dos mandantes.

O autor não deixa de fazer críticas e reconhecer que, naquele momento, houve avaliações erradas e até certo amadorismo. No entanto, o livro não apresenta um sentimento de tristeza ou derrotismo. Pelo contrário: contagia os leitores com o orgulho de ter feito parte de um grupo de militantes que dedicaram suas vidas pela igualdade, liberdade e democracia. “Não me coloco aqui em um papel de vítima, como sofredor. Muito pelo contrário: falo como alguém que gosta muito da vida”, afirmou, fazendo referência à bela canção de Violeta Parra escolhida para título do livro.

 

O livro está sendo vendido na Livraria Antonio Gramsci, e pode ser encomendado pelo e-mail livraria@piratininga.org.br Também pode ser comprado em nossa loja online: http://livrariagramsci.com.br/produto/gracias-a-la-vida-memorias-de-um-militante-cid-benjamin/

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